Uma história sobre encomendas e flores

quinta-feira, agosto 20, 2015



Correios. Essa provavelmente é a resposta mais coerente para tudo de ruim que está acontecendo na sua vida. Seu parceiro terminou com você? Certamente esses incompetentes esqueceram de entregar o presente de aniversário de namoro que você comprou com tanto carinho. Foi mal na prova de matemática? Pudera! Quem conseguiria calcular o número de dias que um produto pode ficar retido na alfândega?

Pois bem, os Correios me perseguem. Essa organização repleta de atendentes mau humorados, funcionários cheios de má vontade e carteiros arrogantes e preguiçosos faz bullying comigo. Ou com meu CEP. Eu só sei que as coisas geralmente não chegam até lá em casa. Às vezes, chegam até mim, mas raramente as recebo no conforto da minha residência. Eu juro que gostaria de saber o que eu fiz. Eu pago meus impostos! Não que eu seja melhor do que alguém por isso, mas poxa, eu pago.

Agora, em dezembro, todo mundo resolveu ter a mesma ideia brilhante de uma só vez. É Natal, rabanada, peru, pisca-pisca, papai noel e, presentes. Pois é, presentes. Presentes para todos! Inclusive para aquela tia que você só vê uma vez ao ano — justamente nessa época — e que insiste em perguntar sobre os tais namoradinhos. Acontece que ninguém quer sair às ruas pra comprar presentes, afinal, tem gente— e zumbis, quem sabe — brotando dos bueiros. Ora, é muito mais fácil resolver tudo com alguns cliques. Comprar e receber - sem muito esforço. O problema é: a primeira tarefa compete a você; a segunda, não. Basta pensar que centenas de pessoas estão fazendo a mesma coisa e dependendo da mesma organização para perceber no que isso vai dar:muita encomenda, pouco funcionário e bastante dor de cabeça.

Comprei três livros no começo de novembro na modalidade e-SEDEX. Deveriam chegar em 3 dias úteis. Deveriam. Futuro do pretérito. Não rolou. Mas quem dera ser este o meu maior problema. Quando um produto não chega ao destino final por determinação dos correios, ele fica disponível para retirada na agência mais próxima, e enviam um papel chamado AR, que informa ao destinatário até quando ele pode buscar sua encomenda. Contudo, esse informe não chegou e eu compareci à agência dentro de 7 dias úteis, prazo comumente estabelecido para retirada. A notícia que recebi? “Sinto muito, senhora, o seu pacote foi devolvido ao remetente e esse processo é irreversível. Foi uma falha nossa, mas não há nada a ser feito. A senhora pode entrar com uma reclamação na ouvidoria…”

Saí daquela agência xexelenta bufando. Nesses casos, a loja devolve o dinheiro do comprador, mas o preço dos livros já havia aumentado e eu não conseguiria comprar todos eles de volta. Liguei para a central de atendimento da empresa e consegui negociar uma nova postagem dos produtos sem nenhum custo adicional.

E o que acontece com a nova remessa? Acertou quem disse “a mesma coisa”! Dessa vez, contudo, consegui retirar o produto sem maiores problemas. Obviamente, estou descartando a demora, bem como as perguntas idiotas que o atendente fez. “Que tipo de encomenda é?” “São três livros.” “Muito grandes?” “Não.” “Como é a capa?” “Te interessa saber a capa se todos estão embalados num plástico azul?” É importante ressaltar que essa última resposta apenas passou pela minha mente.

Ao deixar a agência, fui para o ponto de ônibus. Como esperei por aqueles livros! Mais de um mês havia se passado! Ah, e que angústia! Não consegui me controlar e comecei a rasgar o pacote ali mesmo. Fui cheirando todos eles e fiz daquele embrulho azul um bebê recém-nascido, acalentado no meu colo. De repente, caiu, bem ali entre os livros, no espaço certinho que eu havia aberto no pacote, uma flor. Foi uma queda perfeita, leve e suave. Aliás, foi um voo perfeito, pois na posição e local em que eu estava, não havia possibilidade alguma de cair algo no meu colo. Só chuva, ou neve. Mas não neva em São Gonçalo.

Comecei a pensar que Deus é físico. Uma combinação perfeita de massa e velocidade. Não sei se a sensibilidade é passível de ser enxertada numa fórmula, mas ela estava lá. E do outro lado da equação estava um sorriso. O reconhecimento de que nossos dias precisam de menos stress e mais leveza. Que as reclamações tomam boa parte de nossa vida, assim como os muitos parágrafos deste texto dedicados à murmuração, mas que devemos abrir caminhos pra que as surpresas simples possam preenchê-la. Já contei dois parágrafos de regozijo. E você?

Escrito em janeiro de 2014.

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