Três casinhas

quinta-feira, agosto 20, 2015

Estou me mudando para Teresópolis. Vou trocar o calor da região metropolitana pela brisa da serra, e a casa que me abrigava somente durante alguns fins de semana se tornará o local para o qual eu voltarei depois das aulas e da igreja. Apesar de estarmos no mesmo estado, o clima das duas regiões difere bastante. Teresópolis geralmente apresenta uma temperatura 10ºC menor que a de São Gonçalo.


Além do mais, em São Gonçalo não chove granizo (que, só pra constar, não tem o mesmo gosto do gelo que é fabricado no congelador) e, no inverno, não vejo “fumacinha” sair da minha boca enquanto falo. É por isso que nossa casa não tem ar condicionado. Temos, sim, uns janelões bem grandes (alô, pleonasmo!) em cada quarto. Todas elas, sem exceção, têm vista para as montanhas.

Pois bem. É de conhecimento público que, após o almoço, a preguiça bate à porta pra fazer uma visita. Como estava de férias, nem me incomodei em recebê-la e logo me dirigi ao quarto dos meus pais, a fim de assistir – deitada – a um pouquinho de TV. Minha mãe, que havia decidido se juntar a mim, ao perceber que a programação televisiva só fazia causar tédio, apontou para a janela e disse: “Eu gosto de ficar olhando para aquelas três casinhas. A marrom sempre está com a janela fechada.” Voltei o meu olhar na direção indicada e vi um cenário que parecia fazer parte de um desenho infantil. Três casas quase idênticas– telhado simples, duas janelas quadradas e uma portinha –, a não ser pela pintura, escondidas no meio da mata, num ponto tão alto e distante que criavam a sensação de estarem incrustadas na montanha.

A partir daquele momento, comecei a me perguntar várias coisas. Como os caminhões de material de construção chegaram até lá? Os moradores dessas casas recebem correspondências? Será que eles recebem visitas? Como lidam com o medo durante as tempestades?

Do meu ponto de vista, aquelas casas eram inalcançáveis. Não via nenhum sinal que indicasse a existência de uma estrada. Mas chegaram até lá. Alguém deita nas camas daquelas casas. Alguém toma banho lá. Alguém faz café de manhãzinha. Alguém conhece aquilo que nem você, nem eu, conhecemos: o caminho. Há certas coisas na vida que se assemelham a essas casinhas: para alcançá-las, é preciso sair do lugar que limita a nossa visão, desbravar o desconhecido. Passo a passo, você descobrirá que o inatingível está cada vez mais próximo.

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